*Henrique Flory
Diferentes sociedades cresceram de diversas formas, porém,
em algumas, a corrupção desenfreada não teve espaço para crescer, e essas
sociedades nunca tiveram que lutar contra um câncer nacional; a Nova Zelândia é
um exemplo para ilustrar esse caso. Outras, desenvolveram com o tempo
instituições fortes onde o balanço pendeu para a corrupção contida em níveis
aceitáveis; como Inglaterra, Alemanha, Holanda e talvez em boa parte da Europa.
Mais importante para nós, brasileiros, é estudarmos
sociedades que já estiveram imersas no que poderíamos chamar de “mar de
corrupção”, de onde não parece haver saída nem solução, onde todos pareciam ser
corruptos, mas depois de um tempo conseguiram se modificar, conseguiram se
tornar menos corruptas até se tornarem modelos a serem seguidos.
Quando a corrupção é absolutamente alastrada em um país,
temos a sensação de que não há mais saída e que não há mais nada a fazer; é
mais do que não saber mais separar o joio do trigo, é a sensação de não haver
mais trigo nenhum.
Bertrand De Speville, uma das maiores autoridades do mundo
em estratégia e ação anticorrupção, foi responsável pela transformação de Hong
Kong de uma sociedade entre as mais corruptas do mundo para uma das menores. Em
seu livro texto, “Superando a Corrupção” (Ed. Arte & Ciência), ele lista os
sete fundamentos essenciais para o combate bem sucedido à corrupção em qualquer
país, em quaisquer condições. São eles:
Vontade. Tem que haver vontade política para ação contra o
problema. A vontade política para a ação contra a corrupção geralmente é frágil
e tem vida curta.
Lei. Precisam existir leis fortes, incluindo claramente os
delitos que refletem os valores da comunidade, poderes efetivos de investigação
e normas de evidência que auxiliem, adequadamente, a denúncia e o processo dos
acusados dos crimes de corrupção.
Estratégia. A luta contra a corrupção requer uma estratégia
clara, completa e coerente que precisa abranger três elementos: aplicação
efetiva das leis; prevenção da corrupção, pela eliminação das oportunidades para
a corrupção, nos sistemas e regulamentações, pequenas e grandes; e educação
pública sobre corrupção e persuasão das pessoas para ajudarem na luta contra a
corrupção.
Ação coordenada. Para ser efetiva, a implementação desses
elementos precisa ser coordenada. Até agora, coordenação bem-sucedida contra a
corrupção só foi obtida com a criação de um corpo especializado em
anticorrupção.
Recursos. Os líderes nacionais precisam reconhecer que a
luta bem-sucedida contra a corrupção requer recursos humanos e financeiros.
Suporte Público. As autoridades não podem combater o
problema sem a ajuda das pessoas. Portanto, a comunidade precisa estar
envolvida desde o começo.
Resistência. Todos precisam perceber que superar a corrupção
vai levar tempo e deverá causar dor, e que o problema, uma vez posto sob
controle, deverá assim permanecer.
A obra de Speville é tão importante que deveria ser leitura
obrigatória para todos que se habilitam para a vida pública. Ela traça uma
metodologia, um caminho, escrita por um dos poucos que conseguiram sucesso em
uma área tão árida.
O que temos hoje pela frente parece mais do que uma façanha
hercúlea, parece uma missão impossível. Mas ela só será impossível mesmo se
ninguém tentar, se todos desistirem por considerem-na impossível. Por isso, já
quando estudava na Brandeis University, decidi dedicar parte da minha vida a
ela; apenas parte da minha vida, porque não quero morrer frustrado.
*Henrique Flory é mestre em Administração de Empresas pela
FGV e em Administração Pública pela Harvard University, tradutor e editor do
livro Superando a Corrupção, de Betrand de Speville
**Vera Moreira Comunicação
Nenhum comentário:
Postar um comentário