Os riscos de se realimentar a crise
*Levi Ceregato
A decisão do Copom, no final de abril, de posicionar a Selic
em patamares elevados mantém os juros reais brasileiros em torno de cinco por
cento e em primeiríssimo lugar no ranking mundial, bem acima do segundo e
terceiros colocados, a China e a Índia, nossos competidores diretos no comércio
exterior, cujas taxas giram em torno de três por cento. Sabemos que esses
mecanismos meramente monetários já não produzem efeitos no sentido de conter a
inflação e são nocivos à meta de retomada do crescimento.
Não se pode ignorar, ainda, outras causas da crise econômica
brasileira, como o desajuste fiscal, o enfraquecimento político do governo e a
perda de confiança do empresariado e dos investidores. Estamos todos muito
conscientes dos problemas enfrentados pelo Brasil, temas das grandes manchetes
diárias dos meios de comunicação. Entretanto, a crítica ganha maior sentido
quando suscita ideias voltadas às soluções. Nesse sentido, acredito não ser
produtivo apenas apontar os fatores da crise e lamentar as desventuras dos
empresários e trabalhadores brasileiros.
Independentemente das políticas públicas, que devemos, sim,
buscar influenciar, por meio do encaminhamento de sugestões e reivindicações às
autoridades, é preciso trabalhar muito e lutar contra o agravamento da situação
econômica. Já tivemos cenários tão
graves quanto o atual, numa conjuntura até mais complexa em termos mundiais, e
conseguimos lutar, superar e vencer.
Somos um país com 200 milhões de habitantes e, portanto, com
um dos maiores mercados consumidores do mundo, ao qual ascenderam, nos últimos
dez anos, mais de 40 milhões de pessoas. Não podemos retroceder e perder os
ganhos dos últimos anos. Temos de alimentar, vestir, gerar empregos e manter
com dignidade todo esse imenso contingente populacional. Ao fazer isso,
estaremos movimentando a economia.
Temos uma indústria avançada e organizada, que enfrenta, é
verdade, uma de suas maiores crises de competitividade. Porém, não podemos
parar as máquinas, fechar as portas e ir para casa. Precisamos trabalhar,
produzir e seguir em frente, mesmo que a estrada seja tortuosa e cheia de
obstáculos. No Brasil, está instalado um dos mais sofisticados e competentes
sistemas financeiros do mundo. Nosso sistema bancário tem solidez, tecnologia,
muito conhecimento do mercado e capacidade de continuar financiando as
atividades produtivas. Não é hora de vislumbrar apenas as oportunidades
financeiras da crise; o momento é de vislumbrar as oportunidades de gerar mais
riquezas pela valorização do empreendedorismo e do trabalho.
A
agropecuária brasileira é uma das mais avançadas do Planeta, com grande
capacidade produtiva para abastecer o mercado interno e gerar grandes
excedentes para as exportações, como tem ocorrido há muitos anos. Nossos
serviços e nosso comércio são muito bem estruturados e têm elevada capacidade
de atendimento das demandas.
Assim,
não basta lamentar. É hora da superação, da criatividade, das promoções,
campanhas inteligentes, do respeito à lei da oferta e da procura como
reguladora dos preços e de muito trabalho. O momento é o do bom combate,
mantendo mobilização cívica em prol de políticas públicas que estimulem os
setores produtivos e repudiando a corrupção, mas sem capitular ante os fatores
inimigos da economia. Não é inteligente retroalimentar a crise. Se fizermos
isso, ela cresce e nos devora em nosso próprio medo.
*Levi Ceregato é o presidente da Abigraf
Nacional (Associação Brasileira da Indústria Gráfica).
**Ricardo Viveiros & Associados – Oficina
de Comunicação
Nenhum comentário:
Postar um comentário