Vacas magras e juros gordo
*Sidney Anversa
Victor
Em época de
vacas magras e juros gordos, quem paga o pato são as empresas e os
trabalhadores, que ficam sem crédito, respectivamente, para financiamento e
consumo. Essa perversa equação está no epicentro da atual crise brasileira. Por
isso, são muito corretas as críticas de que a mesmice da Selic alta para conter
a inflação já se esgotou como solução há muito tempo. Está faltando
criatividade, ousadia e transparência por parte do governo, que mantém a
sociedade na expectativa do que pode acontecer.
Prova da
ineficiência dos juros como mecanismo de estabilidade dos preços na atual
conjuntura brasileira é que as previsões inflacionárias para este ano são as
maiores da década, superando a oito por cento, com o fator agravante da
estagnação. Não é possível que os especialistas do governo não tenham
consciência dessa conta tão simples, que todos já enxergaram. O problema é que
Brasília não tem como mudar o filme da Selic por uma questão indisfarçável: o
desequilíbrio fiscal.
Na verdade,
a União precisa pagar juros altos por seus papéis para continuar captando
recursos destinados ao financiamento da dívida pública, alimentada durante
muito tempo por despesas maiores do que as receitas. A perda de credibilidade
do governo, causada não apenas pela questão fiscal, mas também por episódios
como “mensalões” e “petrolões”, também exige que seus títulos paguem muito para
atrair aplicações de dinheiro.
Estamos,
assim, numa tempestade mais do que perfeita. É um círculo vicioso com força de
tufão, no qual giram desordenadamente a retração do nível de atividades, o
desequilíbrio fiscal, os juros altos, a inflação e o desemprego em alta. A
economia brasileira está aparentemente sem rumo. A presidente Dilma Rousseff
parece cada vez mais retraída e cautelosa antes de anunciar novas políticas
públicas, em meio ao desabamento de sua popularidade e à crise de
relacionamento com a Câmara dos Deputados e o Senado.
Enquanto isso, as
empresas enfrentam cada vez mais dificuldades para vender, capitalizar-se,
manter postos de trabalho e as portas abertas. Tais obstáculos refletem-se no
índice de confiança do empresário gráfico brasileira, relativo ao primeiro
trimestre deste ano, que caiu para 41 pontos, ante 48,4, nos últimos três meses
de 2014. Em São Paulo, o recuo foi mais drástico, de 45,8 para 36,2.
O estudo, que acaba de ser anunciado pela Abigraf
(Associação Brasileira da Indústria Gráfica), mostra, ainda, que o aumento do
preço da energia elétrica teve impacto muito grande para 63,5% do empresariado
do setor. Apenas 4,2% dizem não terem sido afetados. Além disso, o risco de
racionamento de eletricidade influencia a decisão de investimento de 35,1% das
gráficas e impõe plano de contingenciamento para 17,7%. Na soma relativa às
crises hídrica e energética, a produção das empresas médias foi muito afetada,
bem como investimentos. Os grandes impressores tiveram margens impactadas, mas
sem danos graves à produção e planos de investimento.
Diante de tantos
problemas a serem resolvidos, é desagradável constatar, a cada reunião do
Copom, que o governo insiste em buscar soluções apenas na síntese superada dos
juros altos.
*Sidney Anversa Victor é o presidente da
Abigraf Regional São Paulo (Associação Brasileira da Indústria Gráfica-SP).
**Ricardo Viveiros
& Associados – Oficina de Comunicação
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