Gestão política leva
Petrobras para a lama
*Reginaldo Gonçalves
As operações efetuadas por meio das investigações da
Lava-Jato têm identificado a ação de desvio de recursos em uma das maiores
estatais brasileiras. E também indicando os pontos de fragilidade e o uso da
empresa para alicerçar algumas manobras na economia brasileira.
Há muito tempo o governo vem utilizando a estatal para a
famosa operação tapa-buraco do orçamento, fazendo exportações de plataforma
para aumentar a balança comercial. Outra ação é segurar o preço do petróleo
para evitar o aumento da inflação. Isso, além de descapitalizar a empresa,
acaba prejudicando seus investimentos.
Após a identificação de má gestão e desvio de recursos
para patrocinar partidos políticos, a contabilidade criativa entrou em ação,
com a postergação da perda com variação cambial que foram lançadas no
patrimônio líquido e cuja amortização será efetuada em sete anos, antecipando
indevidamente os lucros e aumentando o dividendo pago ao governo para melhorar
o seu caixa.
Em virtude de toda política na qual o governo é o
principal acionista e participante do conselho de administração, muitas ações
deixaram de ser realizadas e com isso, o seu planejamento estratégico foi
prejudicado. Isso porque o foco do governo foi a exploração do pré-sal como
alternativa para fugir das importações e ser um país auto suficiente e não
dependente da importação.
A identificação do rombo da operação Lava-Jato, em torno
de R$ 6,194 bilhões, é um valor considerado pequeno para o tamanho já
identificado, inclusive pela própria
Lava-Jato, que poderia atingir cerca de R$ 42,8 bilhões. O montante não
reconhecido na peça contábil e que de forma indireta foi desvalorizado em seu
ativo por meio da operação chamada de teste de impairment (avaliação dos ativos
a valor de Mercado) demonstra que seus ativos tiveram um ajuste significativo
mas não reconhecido pelos desvios que ocorreram em obras em Pernambuco e no Rio
de Janeiro.
Com um dos maiores endividamentos apontados no terceiro
trimestre do ano passado, a dívida bruta de R$ 506,5 bilhões faz com que a
Petrobras seja apontada como a segunda empresa mais endividada da América
Latina.
Com a perda da nota de crédito pelas agências
internacionais, a busca por capital para investimentos ficou mais difícil e
mais caro e pressiona a empresa. Trata-se de um momento delicado para se
desfazer de ativos que podem acabar sendo desvalorizados, já que muitos deles
podem ser vendidos na "bacia das almas", ou seja a preço de mercado
muito ruim.
A Brasken, indústria química pode ser a próxima a sair do
seu portfólio de investimentos, atingindo em sua venda o valor aproximado de R$
5,8 bilhões. O valor é considerado baixo, já que seu endividamento é
significativo e registrou aumento em virtude da desvalorização do real, que vem
ocorrendo desde dezembro de 2015.
A guerra de forças está no preço internacional do barril
de petróleo que atingiu o valor de US$ 30,44 em 12 de janeiro último e que leva
por água abaixo o investimento no pré-sal - o custo de extração está em torno
de US$ 45, inviabilizando a atual matriz de exploração e toda a sinergia
vertida para esse negócio. Esse fato deve mudar o planejamento estratégico,
inclusive na reavaliação de custos na extração do pré-sal ou até a sua
descontinuidade temporária, já que o mercado acredita que o preço do barril de
petróleo pode atingir US$ 20.
O ganho na importação do produto, mesmo com a
desvalorização do real, está sendo criticado. O valor na bomba, na aquisição do
combustível, é mais caro do que o petróleo importado. Mas a empresa mantém seu
preço para recuperação do caixa da estatal, já que infelizmente os
financiamentos de longo prazo estão bem mais caros, em virtude da desconfiança
na liquidação das suas dívidas.
Restam os problemas das empresas, como a Sete Brasil,
constituída com a Petrobras para locação de sondas. Por conta da identificação
de desvio de finalidade, por meio da operação da Lava-Jato, foram paralisados
os contratos. Ou seja, é uma empresa que tem a participação da Petrobras e indo
à deriva. Ela está em busca da recuperação judicial e sua descontinuidade
poderá refletir futuramente em seu balanço, ou seja, mais uma gestão duvidosa.
A próxima publicação das demonstrações financeiras poderá
trazer mais surpresas, mas no curto prazo a sua recuperação é inviável. Haverá
a necessidade de técnicos mais preparados para mudar a sinergia da Petrobras e
modificar o perfil da gestão da organização. As ações diretas do governo devem
ser minimizadas para não prejudicar a transparência e a prestação de contas
para os investidores, embora seja difícil tirar uma parte do poder do governo
do Conselho de Administração, já que muitas das decisões acabam tendo influência
política.
*Reginaldo
Gonçalves é coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa
Marcelina (FASM)
Nenhum comentário:
Postar um comentário