Sentido da Solidariedade
A Solidariedade anima o ser humano. Alguns pensam que seja uma coisa
abstrata. Não é. Você de repente está muito bem de vida, daqui a pouco não está
mais. Um vizinho lhe arranja alimento para seus filhos. Veja a Solidariedade
ativa nesse ato! Você vive distante, de súbito, sente no coração o desejo de se
formar, digamos, em medicina, não tem o apoio de ninguém. Põe o pé no caminho,
chega ao destino procurado e encontra pessoa amiga que o incentiva. E, depois
de muita luta, alcança a vocação ambicionada.
Apesar de haver quem diga: “Não,
eu me fiz sozinho!”. Duvido! Esses deveriam olhar para si próprios e ver se
estão nus, porque as roupas que vestem passaram por muitas mãos. O tecido,
antes, foi um vegetal qualquer perdido no campo; o botão compôs o corpo de um
pobre animal. Seu cabelo precisa ser cortado. Deve-se tudo isso ao barbeiro, à
costureira, ao alfaiate, ao operário, ao empresário... Devemos sempre algo a
alguém. Observem o quanto a Solidariedade permeia a vida humana.
Mas ainda existem aqueles para quem esse fator não seja ação de política
social. Por isso é que, se pararmos um pouco e meditarmos, voltados para a
História, poderemos concluir a razão pela qual, talvez, ideologias brilhantes,
na hora do “ver para crer”, apresentam resultado aquém do previsto, deixando os
seus mais nobres idealistas frustrados.
Por quê? Porque faltou Solidariedade no coração de alguns dos seus
executores. Isso para não falar em Caridade, poderoso sentimento que
soberanamente envolve todos os demais. (...) Há os que até agora a consideram
delírio de “desvairados” religiosos ou místicos “impostores”. Binet-Sanglé (1868-1941), autor de A loucura de Jesus, de certa forma
pensava assim. Hoje, na Vida Espiritual — onde fatalmente caem as escamas que
ensombrecem o entendimento dos Assuntos Divinos enquanto permanecemos na carne
— pode estar revendo seus conceitos.
Sem Solidariedade e sem espírito de Caridade, estratégias de Deus,
ninguém irá para a frente. O tempo mostrará aos mais céticos (...). Um dia
serão quesitos fundamentais da Política (com P maiúsculo).
*José de Paiva
Netto, jornalista, radialista e escritor.
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