sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Dilma pode renunciar (dizem petistas históricos)
*Luiz Flavio Gomes

Heráclito (535-475 a.C.), esnobado por Platão (427-347 a.C.), que elegeu como patrono da filosofia Parmênides (515-445 a.C.), dizia: “Tudo está em permanente fluxo. O que há de mais permanente no Universo é a mudança. O dia muda para noite, que por sua vez muda novamente para o dia”.  Mais: “Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio” [porque em todo momento suas águas são outras] (O livro da filosofia, p. 40-41).
Comprovando que “tudo é fluxo”, “Dirigentes históricos do PT [agora] acreditam em renúncia, no caso de total ingovernabilidade do país (agravada por eventual derrota no pacote fiscal); O impeachment poderia até ser barrado no STF, mas para evitar conflagração no país [mesma situação histórica de João Goulart, em 1964], ela renunciaria” (Mônica Bergamo, Folha 19/9/15: C2).
 “A conta [de que Dilma tem poucas semanas para virar o jogo] pode mudar caso se confirmarem os rumores de que o delator Fernando Baiano poderá arrastar os principais líderes do PMDB, partido de Michel Temer, para o precipício. Nesse caso, a possibilidade de o vice assumir no lugar de Dilma estaria afastada” (idem, ibidem).
Para 64% Dilma não vai concluir o governo (pesquisa realizada pelo Instituto Idea Inteligente, com 20 mil pessoas, por telefone, em 143 cidades do Brasil, de 10 a 14 de setembro/15 – Valor 19, 20 e 21/9/15: pag. A6). Desses, 60% acham que ela vai renunciar; 61% acham correto o impeachment; 71% consideram o governo ruim ou péssimo; 7% apoiam seu governo; 81% disseram que a Lava Jato não é o motivo da crise econômica; 88% afirmam que a Lava Jato deve continuar.
Caro leitor: as notícias midiáticas assim como as pesquisas não são dados matemáticos. Revelam, no entanto, aspectos daquilo que é visível. Mas é importante também olhar para a esfera do invisível: quem muda os jogadores em campo (entra Temer, fica Dilma ou nem um nem outro, colocando-se no posto um terceiro, com eleições antecipadas) não são os próprios jogadores (os políticos) nem o técnico do time (Dilma/Lula) nem muito menos a torcida sozinha (o povo). Claro que a queda de Dilma já está gerando negociações na área política (entre partidos), mas quem tem a maior força para mudar os jogadores em campo não são eles (exclusivamente), sim, são os donos do time (donos do poder econômico e financeiro), que ainda não tomaram a decisão final em virtude das divergências entre eles: os banqueiros querem que o técnico (Dilma) permaneça, o patronato da indústria, do comércio e do agronegócio querem que Temer assuma.
Com Dilma, Temer ou um terceiro, no entanto, o que se deve lamentar é que não está no nosso horizonte ver o fim da mafiocracia brasileira (pelo menos por ora). O sistema político brasileiro se tornou cleptocrata (governo de ladrões e de corrupções) particularmente em razão da sua dependência às oligarquias econômicas e financeiras (plutocracia) que dominam o País, se apropriando do Estado para promoverem a acumulação primitiva de capital (ora lícito, ora ilícito, conforme cada ocasião e as circunstâncias).
Muita gente só está lutando pela troca do governo (nos próximos dias ou meses ou anos), mas o que ninguém consegue garantir (por enquanto), daí a insegurança de todos os dominados, é o fim da mafiocracia (cleptocracia + desigualdades extremas), que é a democracia viciada e corrupta que sempre tivemos.
De qualquer maneira, “tudo é fluxo” (Heráclito), ou seja, como as coisas não devem ser definidas por sua essência imutável [porque as coisas não seriam imutáveis], a própria mafiocracia brasileira não escapa da regra universal da mutabilidade (e talvez até de uma pouco provável contenção). Mas isso jamais será obra exclusiva da Polícia e da Justiça (certeza do castigo), senão, sobretudo, da sociedade organizada e de cada um de nós. “Temos que nos tornar a mudança que queremos ver no mundo” (Mahatma Gandhi).
“Não queremos admitir que há um Zé Dirceu dentro de nós. E que há um Cunha, uma Dilma, um Aécio e um Bolsonaro se digladiando em nossos peitos [e nossas mentes]. Tem até um Collor no Senado de nossas Brasílias interiores. Desgraçada Mente, de nada adianta caçar essa turma no cerrado se os deixarmos impunes e soltos dentro de nós” (Henrique Goldman, Serafina-Folha, set/15: 14). “As únicas pessoas que não conseguem mudar são as mais sábias e as mais estúpidas” (Confúcio).


 *Luiz Flavio Gomes é jurista e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Estou no professorLFG.com.br e no twitter: @professorlfg

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