sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Amizade é a minha Religião

O sentimento de amizade verdadeira, firmada na labuta diária, é fator significativo no fortalecimento das relações, para a superação dos dissabores, não somente no âmbito familiar, também no coletivo.
No Apocalipse de Jesus, 1:9, João Evangelista revela — por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo — a sua condição de “companheiro na tribulação, no reino e na perseverança”.
Há quem, ao interpretar o Livro das Profecias Finais, restrinja a sua mensagem à época do cruel Domiciano e de outros inconsequentes que dirigiam o Império Romano. Contudo o Apocalipse do Cristo Ecumênico, o Divino Estadista, é uma obra para as gerações. Nas várias oportunidades em que reencarnamos na Terra, o Divino Mestre é companheiro nosso, ajudando-nos a vencer as piores provações, até que mereçamos não mais por aqui penar.
O mal na vida é restrito, ainda que muitos pensem o contrário, porque não se atrevem a ver além do horizonte material: existe algo mais do que eles teimam em não investigar, pois foge aos parâmetros na atualidade admitidos pela ciência convencional. Serão, porém, amanhã os mesmos? É evidente que o dogmatismo científico é o pior de todos. Todavia a amizade, a fraternidade, a concórdia não sofrem restrição alguma da parte de Deus. Portanto, esse espírito solidário, que o Apocalipse projetou sobre as eras, não pode ficar jugulado a uma jornada física. (...). O último livro da Bíblia não é o reino do pavor. Ele nos fala de companheirismo diante das tribulações causadas pelos nossos equívocos planetários. Eis a Mão Divina semeando excelente virtude, onde o ser humano prefere perder-se. Trata-se de uma norma do governo de Jesus.
A amizade é por demais importante para a sobrevivência dos povos. O notável poeta Alziro Zarur (1914-1979) retrata esse fato no seu magnífico
 Poema da Amizade:  “Eu tenho, neste espírito de velho/ Que não compreende a vida em solidão,/ Meu particularíssimo Evangelho:/ Amizade é a minha religião./  “Nem só de feras se compõe o mundo,/ Como proclamam todos os egoístas:/ Basta verificar o amor profundo/ Que transborda nas almas dos altruístas./ “Que amizade se mostra é no perigo,/ No luto, na ruína e no sofrer:/ Porque, afinal, é fácil ser amigo/ Nas horas deliciosas de prazer.  “Estas não são teorias de um abstêmio,/ Mas de homem que enxergou, em plena vida,/ A falência do espírito boêmio/ Que se compraz na vocação suicida. “Não sei se fui bem claro: o que ajuízo/ É que, em geral, artistas orgulhosos −/ Prosadores ou poetas geniosos −/ Fazem da sociedade um falso juízo. “Na torre de marfim dos seus complexos,/ Que eles supõem de superioridade,/ Isolam-se de toda a Humanidade,/ Evitam dos humildes os amplexos.  “Quem pode ser amado sem amar?/ O que esses super-homens não entendem/ É que, com tanto egoísmo, eles pretendem/ A toda a massa humana desprezar. “Não, talentosos luminares e astros/ Da vaidade infinita, que me aterra!/ Os homens podem, mesmo assim de rastros,/ Tentar trazer o paraíso à terra. “Mas é preciso que haja em todos nós/ Um pouco de renúncia e de modéstia,/ Uma nesga, uma fímbria ou fraca réstia/ De solidariedade em nossa voz.  “É urgente que, da torre de marfim/ Em que vivem os gênios, ora desçam/ À planície e, depois, se compadeçam/ Dos pobres ‘imbecis de triste fim’.  “Cultivemos, senhores, a amizade/ Em suas santas manifestações,/ Sentindo as agonias e aflições/ Das camadas servis da sociedade! “Por isso eu tenho − espírito de velho/ Que não compreende a vida em solidão −/ Meu particularíssimo Evangelho:/ Amizade é a minha religião”.

*José de Paiva Netto é  diretor-presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). 

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