O fantasma do
Impeachment
*Rodrigo Augusto
Prando
No último
dia 3, o Governo Dilma entrou em estado de alerta máximo. Eduardo Cunha, presidente
da Câmara dos Deputados, resolveu dar continuidade a um dos vários processos de
impeachment enviados àquela Casa. Neste pedido, em especial, Cunha afirmou que,
neste caso, compreendeu existir indícios evidentes de descumprimento da Lei de
Responsabilidade Fiscal. O momento reclama, antes de tudo, reflexões menos
apaixonadas.
Escrevi,
alhures, que o Governo Dilma era um “governo em compasso de espera”, pois
aguardava julgamento das contas pelo TCU (que foram rejeitadas), espera a
investigação do STE para uma possível cassação da chapa Dilma-Temer, aguarda os
resultados da Lava-Jato que, quase semanalmente, foi derrubando importantes
nomes do empresariado e do mundo político, e, por fim, estava em compasso de
espera em relação aos vários pedidos de impeachment enviados à Câmara dos
Deputados.
Eduardo
Cunha, como bem sabemos, tem sua conduta sob suspeita de atos ilícitos, como,
por exemplo, contas bancárias no exterior não declaradas e de ter mentido para
os seus pares quando questionado sobre tais contas. Por isso, o Conselho de
Ética julgaria Cunha por, pelo menos, quebra de decoro parlamentar.
Com isso,
Cunha poderia perder não só a Presidência da Câmara, mas, também, seu mandato.
O que se viu, então, foi, para ser suave, negociatas e chantagens de várias
ordens, entre o Executivo e Cunha.
Contudo, ao
que parece, havia, sim, fortes indícios que Dilma se articulou para salvar
Cunha no Conselho de Ética, mas, doutro lado, veio indicações do presidente do
PT, Rui Falcão, de que os deputados petistas partissem para o ataque contra
Cunha. Falcão – comentam os cronistas da política – agiu em acordo com Lula. Ou
seja: uma articulação política esquizofrênica que derrapou por todo o primeiro
mandato e que se encontra paralisada no momento, não poderia, agora, dar certo.
O cenário,
portanto, que era de muitas incertezas constitui-se, neste momento, em uma
única certeza: o governo será paralisado e todos os esforços se voltarão para
barrar o impeachment.
Noutra
oportunidade, asseverei que o impeachment para se consolidar no afastamento da presidente
Dilma deveria conjugar três principais atores: 1) os políticos - pois estes têm
os votos para cassar o mandato presidencial; 2) a força popular das ruas
indignadas e 3) o universo jurídico dando respaldo assentado em fatos concretos
de desvios da Presidente.
Neste
intricando jogo de forças, o TCU reprovou as contas da Presidente, mas estas
devem, ainda, ser reprovadas pelo Legislativo e isso permitiria o fato jurídico
concreto: desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal (as famigeradas
“pedaladas fiscais” do Governo).
As ruas, o
clamor popular, parece ter perdido força. As gigantescas manifestações de rua
foram encerradas e nada de concreto se viu depois delas. E, por fim, os
políticos, os donos dos votos que podem interromper o mandato de Dilma. Aqui,
está o maior elemento imponderável: podem, rapidamente, se articular para levar
a cabo o mandato da Presidente ou, então, sem o clamor popular, optar por uma
ação menos drástica, ao vislumbrar que seria melhor, inclusive para oposição,
deixar o governo chegar em 2018 sem popularidade, credibilidade e exaurido por
completo.
A saída de
Dilma do poder pode, para os agentes econômicos, sinalizar uma vontade de dar
rumo ao país. Mas, pode, sobretudo, dar ideia de um fantasioso golpe das elites
e, com isso, fortalecer uma volta de Lula.
Quais os
futuros cenários? Impossível prever. Quem se arriscar a prever o devir da atual
República está fadado a se perder no emaranhado de fatos. De qualquer forma, o
quadro em tela não é só ruim para o Governo Dilma, mas, pior ainda, para toda a
sociedade brasileira. Baixo crescimento da economia, inflação e desemprego
assombram bem mais que o fantasma que ronda o Planalto. Que os atores políticos
ajam com discernimento, responsabilidade e senso republicano e democrático. O
ano termina como começou: nada animador.
*Rodrigo Augusto Prando é professor da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, licenciado e bacharel em Ciências
Sociais, mestre e doutor em Sociologia, pela Unesp, Araraquara.
**Assessoria de imprensa: Ricardo
Viveiros & Associados – Oficina de Comunicação
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