Soluções
Já para viabilizar o futuro!
* Fernando Valente Pimentel
É muito importante que o governo, em especial
a equipe econômica, os parlamentares, as lideranças empresariais e laborais
avaliem e debatam o documento “Ponte para o futuro”, no qual são feitas
propostas para a superação da crise
nacional e retomada do crescimento. As sugestões, embora possam ser
aperfeiçoadas, parecem atender a parcela expressiva dos anseios daqueles
envolvidos e determinados em retomar a rota de crescimento e desenvolvimento do
País. Sem isso não será possível preservar as conquistas obtidas nos últimos 20
anos e, o que é pior, assistiremos a um grande retrocesso nas evoluções que
tivemos. Assim, as proposições devem transcender ao universo partidário, sendo
entendidas como base para a discussão e concepção de um projeto consistente
para o Brasil.
O primeiro
aspecto do documento a ser considerado é o reconhecimento de que o desajuste
fiscal atingiu um ponto crítico. Para solucioná-lo, sem se recorrer novamente a
aumentos de impostos – pois a sociedade não suporta mais carga tributária —, a
sugestão é lúcida: devem ser eleitas prioridades, conforme os recursos
disponíveis e as necessidades, corrigindo-se a cada ano os eventuais erros.
Para isso, obviamente, precisam ser discutidas e revistas as vinculações
constitucionais, pois as mesmas não necessariamente se traduzem em melhores
serviços e atendimento à população, haja vista que saúde e educação, por
exemplo, estão sempre entre as principias reclamações da sociedade quanto à
qualidade do que é lhe é oferecido. Isso pressupõe, a meu ver, a melhoria da
gestão, de modo que os serviços nas duas fundamentais áreas atendam às
necessidades da população de modo adequado. Hoje, gasta-se muito e mal. Não se
trata de cortar de maneira aleatória orçamentos em áreas tão carentes e
sensíveis, mas sim de analisar profundamente os investimentos e verificar se
estão realmente trazendo o retorno adequado. A realidade mostra que não, mas
invariavelmente, a única solução apresentada é a de obtenção de mais verbas e
mais engessamento do orçamento, sem avaliações mais profundas de tendências
futuras.
Quanto ao déficit previdenciário, o documento
defende idade para aposentadoria de 65 anos para os homens e 60 anos, mulheres,
bem como a desindexação dos benefícios em relação ao salário mínimo.
Obviamente, essa questão é delicada e deve envolver discussão mais ampla,
inclusive com as classes laborais. Porém, algo precisa ser feito, pois não
podemos continuar gerando prejuízos anuais nessa área, sob pena de um colapso
irreversível, que comprometerá as gerações futuras. Aliás, esta é uma questão
mundial e até mesmo países avançados da Europa, continente conhecido por ter
redes importantes de proteção social, estão revendo suas regras previdenciárias.
A proposta
também questiona os juros altos, com o que concordam plenamente os setores
produtivos. De fato, a taxa real elevada, hoje a maior do mundo, não tem
surtido o efeito que dela se espera, ou seja, o controle da inflação, que
disparou, e, ao mesmo tempo, tem sido uma das causas da recessão. Não é
sustentável o pagamento de mais de R$ 500 bilhões em juros para o financiamento
da dívida pública. Aliás, os juros reais elevados mostram um desequilíbrio mais
amplo na macroeconomia, envolvendo a questão fiscal em primeiro plano. O fato
real, porém, é que, apesar dos exageros atuais, os juros refletem
desequilíbrios mais profundos e não será com voluntarismo que teremos taxas
civilizadas que criem condições para que os investimentos voltem a acontecer.
Ponto
importante do documento refere-se à redução do tamanho do Estado, cujo custeio
tornou-se insuportável para a sociedade. Assim, conforme o texto, o crescimento
econômico deve ser impulsionado com participação mais efetiva do setor privado
na construção e na infraestrutura, sem intervenções governamentais que
distorçam os incentivos do mercado. Eu acrescentaria outro ganho expressivo,
que seria a melhoria da produtividade em numerosos serviços, hoje emperrados
pela burocracia excessiva, marcos regulatórios confusos e muita insegurança
jurídica.
Outro
diagnóstico muito lúcido das propostas é o de que se esgotaram como motores do
crescimento os ganhos elevados do boom das commodities via setor externo e a
expansão do consumo das famílias, alimentado pelo aumento da renda pessoal e da
oferta de crédito. Portanto, um novo ciclo de expansão do PIB somente será
possível com ganhos de competitividade e produtividade na indústria e nos
serviços, tanto visando às exportações, quanto para aumentar o atendimento à
demanda interna com produção nacional, além, é claro, da retomada dos
investimentos em infraestrutura. Quanto ao agronegócio, entendemos que este
manterá e ampliará sua capacidade de atender à demanda local e internacional.
Sem
partidarismos e com uma visão mais ampla sobre a premência de se superar a
crise e recolocar o Brasil no rumo do desenvolvimento, o documento precisa de
urgente deliberação e discussão para que suas propostas possam ser ajustadas e
executadas em termos práticos. Para isso, porém, será necessário um
entendimento nacional de que o País não pode ficar à mercê da política menor.
Se não atuarmos de maneira condensada, o ajuste dar-se-á de modo ainda mais
cruel, ou seja, mais recessão, desemprego e inflação.
Esses temas,
que pareciam superados, voltaram ao debate nacional. Precisamos solucioná-los
rapidamente, para podermos tratar do que interessa à sociedade, que é mais
investimentos em infraestrutura, educação, produtividade, competitividade e
geração de riquezas. O Brasil é viável, mas outros países também com elevado
potencial estagnaram ao não se reencontrarem com a rota do desenvolvimento e da
melhoria da qualidade de vida de suas populações.
*Fernando Valente Pimentel é o
diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de
Confecção (Abit).
Nenhum comentário:
Postar um comentário