Conta de luz: a bandeira rosa, a
laranja e a verde-musgo
*Diogo Mac Cord de Faria
Apertem os cintos: a loucura voltou ao setor elétrico. Após
uma redução de 20% em 2013 e de um aumento de mais de 100% em vários estados
entre 2014 e 2015, as bandeiras tarifárias passaram a ser notícia nos jornais
da noite. Todo fim de mês é a mesma
coisa: a ANEEL informa à mídia se, no mês seguinte, a bandeira será verde,
amarela ou vermelha – em alusão aos sinais de trânsito tão conhecidos por
todos.
Esta metodologia começou no ano passado (após ter sido
estrategicamente adiada por causa das eleições presidenciais), e estava
começando a ser compreendida pelo cidadão. Fácil: bandeira vermelha, pare! Há
algo de errado (os reservatórios estão vazios!) e precisamos economizar energia
elétrica. Bandeira amarela, estamos mais ou menos; e bandeira verde, podemos
consumir normalmente. Como infelizmente é muito difícil que esta consciência
seja despertada por pura civilidade, cada bandeira tem um preço: nas cores
vermelha e amarela, há uma penalidade (maior ou menor), em forma de sobrepreço
da energia. Já na verde não há sobrepreço, e o consumidor paga o valor regular
em sua conta mensal.
Para que esta lógica faça sentido, é preciso que estes
valores sejam conhecidos por todos, e que esta penalidade esteja internalizada
em cada residência brasileira. A esposa pegaria no pé do marido que deixasse as
luzes ligadas da sala, e o troco viria na hora que ela fosse secar o cabelo.
Por quê? Porque ambos saberiam que o valor do kilowatt-hora aumentaria em “X”
reais. No entanto, desde que este mecanismo foi criado, há apenas 1 ano, o
valor da bandeira vermelha já foi de R$5,50 (para cada 100 kWh), passou para
R$4,50 em agosto passado e, agora, inventaram uma bandeira “rosa” (acabando com
a lógica de tão fácil compreensão dos sinais de trânsito!) valendo R$3,50. A
bandeira amarela passou de R$2,50 para R$1,50. É muito complicado explicar à
maior parte da população que ela precisa economizar, e que caso contrário ela
pagará mais pelo consumo, se ela não souber quanto será este sobrepreço.
É como dizer que estacionar em local proibido pode render ao
infrator uma multa verde, amarela, vermelha, cor-de-rosa, laranja, verde-musgo,
violeta ou azul-turquesa, dependendo do humor do guarda. Parece que a ANEEL
ainda não aprendeu que pior do que uma regra ruim é uma regra que muda a toda
hora: uma regra ruim, com o tempo, acaba sendo compreendida e as pessoas de
adaptam a ela. Agora, uma regra “camaleão”, que cada dia tem uma cor, um preço
e uma forma de aplicação, só confunde em vez de ajudar. Com este sinal
quebrado, é de se esperar muitos acidentes neste cruzamento.
*Diogo Mac Cord de
Faria é engenheiro mecânico, doutorando pela Politécnica/USP e especialista em
infraestrutura pela universidade de Harvard. É sócio de regulação econômica de
serviços públicos da consultoria LMDM e coordenador do MBA do Setor Elétrico do
ISAE/FGV, de Curitiba (PR).
**P+G Comunicação
Integrada
Nenhum comentário:
Postar um comentário