Desafios cada vez mais
difíceis na economia
*Reginaldo Gonçalves
A situação econômica brasileira aponta, neste início de ano,
que em 2016, infelizmente, teremos várias dificuldades para alcançarmos a
recuperação. A falta de credibilidade e transparência do governo provocou o
agravamento da crise de 2015 no ano passado e sentimos agora o reflexo deste
processo.
O maior rombo da história das contas públicas chegou a R$
111 bilhões, considerado um recorde no cenário da economia brasileira. Com o
pagamento dos juros, o déficit chegou a 10% do PIB e atingiu R$ 613 bilhões,
resultado de uma gestão empobrecida, com manutenção dos gastos públicos e
demonstração da utilização de pedaladas fiscais, com o uso dos recursos dos
bancos públicos, até então proibidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
A busca de um culpado é marca do governo que não assumiu as
responsabilidades e utilizou a máquina pública para se reeleger em 2014 - com
manutenção e implantação de metas. Esses pontos já se mostravam fragilizados em
decorrência de uma economia internacional também em queda. A sobrevivência dos
resultados em commodities evidenciou que o País que vive de produtos
elementares para ter uma balança comercial favorável acabou por ruir. O mercado
brasileiro depende em grande parte dos negócios relacionados à exportação de
produtos primários e muito pouco das vendas externas dos industrializados.
A revisão da meta fiscal em 2016 estabelece uma economia,
para pagar juros, da ordem de R$ 30,5 bilhões, montante que representa 0,5% do PIB.
Isso aponta para um cenário negativo, de retração de 1%. O mercado já espera
uma perda maior de massa muscular, atingindo os 3,01%. Mas ainda podem ser
registradas modificações no período, já que a taxa Selic foi mantida em 14,25%
ao ano. Isso causou estranheza ao mercado com relação à autonomia do Banco
Central - que já vem sendo questionada por divulgações anteriores de aumento
até 0,5% feitas antes do encerramento da reunião.
Com juros altos, a dívida pública bruta aumentou
significativamente e chegou, em dezembro do ano passado, a R$ 3,92 trilhões, o
que representa 66,2% do PIB, com a possibilidade de maior aumento. A
perspectiva de superávit primário é muito baixa - 0,5% do PIB.
A meta traçada de inflação, de 4,5% ao ano, com viés de 2%
para cima ou para baixo, é inviável. A indústria registrou retração, o
faturamento foi reduzido e a arrecadação, frustrada, o que causou impacto na
busca de receita por meio do aumento da carga tributária com modificações no
sistema de desoneração da folha de pagamento e na pressão incansável do governo
para conseguir o retorno da cobrança da CPMF.
A previsão da inflação para 2016 é de 7,26% - acima,
portanto, da meta fiscal no seu teto máximo de 6,5%, sinalizando que poderá
haver um aumento maior da taxa Selic. Isso prejudicará significativamente as
indústrias e o consumo. Mas, o Banco Central tem como missão manter a inflação
baixa.
A iniciativa do governo, de lançar ações com o objetivo de
injetar R$ 83 bilhões na economia, não foi bem recebida. Trata-se de uma medida
paliativa - grande parte da população não tem segurança para fazer dívidas e
outros já estão endividados, com dificuldades para honrar os compromissos.
A balança comercial superavitária, da ordem de US$ 923
milhões, é um resultado positivo e projeta as exportações em 2016. O montante
pode atingir este ano o total de US$ 35 bilhões. Alguns dos estímulos decorrem
da desvalorização do real frente ao dólar, que está oscilando entre R$ 3,98 e
R$ 4,15.
De acordo com a análise do Ministério do Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior, houve uma queda nas importações, o que colaborou para que
o resultado da balança comercial fosse melhor. Mas a queda acentuada do barril
de petróleo beneficiou o mercado doméstico, mesmo com a desvalorização do real.
A melhora da balança comercial não representa recuperação do
parque industrial brasileiro, que vem registrando sucessivas quedas. Isso
demonstra a dilapidação do parque fabril e pode apontar um cenário perigoso,
com maior dependência de produtos manufaturados do exterior.
A inflação medida pelo IGP-M, de 1,14% em janeiro deste ano,
mostra que a inflação no ano poderá novamente atingir os dois dígitos, mesmo
com desestímulo do consumo. Impossível não pensar que isso representa uma
contradição, se levarmos em conta a ideia do governo, de injetar recursos dos
bancos na economia. A Bolsa de Valores continua com cenário negativo, o que
demonstra que muitas empresas começam a ficar “baratas”. Mas não há por parte
do investidor interesse nessa modalidade de negócios, por conta da insegurança.
Lamentável, já que a busca por recursos no mercado de capitais é mais barata e
estimula a economia.
*Reginaldo Gonçalves é coordenador do
curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina (FASM)
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