Combater a crise pela raiz
*João Doria
A crise do país é essencialmente de natureza política. E o
guarda-chuva que abriga outras crises: econômica, hídrica, energética e,
sobretudo, a crise moral que solapa as bases do nosso edifício democrático. No
Brasil, a natureza política se torna incompatível com um modelo racional de
Estado e uma gestão moderna de democracia. E a crise tende a se expandir.
O País não sai do impasse porque simplesmente não consegue
avançar na trilha das mudanças políticas. Em consequência, vive permanentemente
dentro de um ciclo de precária governabilidade, agravado pela tensão entre os
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e também pelas enormes carências
sociais, e pela grandeza territorial, com suas marcantes diferenças
socioeconômicas e culturais.
A questão se coloca: como cortar o nó que mantém o país em
uma situação de inércia? Que reformas se fazem necessárias para promover a
dinâmica do país? As indicações para se obter um estágio de modernização, de
maneira quase consensual, assinalam para as necessidades de mudanças na
estrutura do Estado, entre elas, a redefinição de atribuições e melhor divisão
de competências entre os três poderes; do sistema político-eleitoral; do
sistema tributário-fiscal e da previdência, reformas consideradas prioritárias
para o redimensionamento do perfil institucional do país, aperfeiçoamento do
sistema político e formação de uma burocracia voltada para a eficácia.
Essas reformas definirão novos padrões de organização social
e produtiva. No entanto, por mais bem feitas e planejadas, não conseguirão
gerar resultados suficientes para alterar, de modo profundo, a fisionomia
cultural do país.
A Câmara aprovou um conjunto de resoluções, encaminhadas ao
Senado. Essa Casa acolheu o parecer do senador Romero Jucá, diminuindo tempo de
campanha, tempo de programação eleitoral, regulamentando coligações
proporcionais e proibindo doações para campanhas por pessoas jurídicas. Ao
voltar para a Câmara, os deputados desfizeram o acerto feito pelos senadores.
Praticamente, a reforma repõe o que já existe. O que se pode concluir desse
vai-não-vai? Que a modernização do país ocorre a conta-gotas, não atendendo aos
verdadeiros anseios da sociedade.
O Brasil só avançará quando a reforma fundamental, a mãe de
todas as reformas, conseguir contemplar a base da sociedade. E que reforma é
esta? A reforma educacional, começando com a educação básica. Vamos aos fatos:
a escola pública está deteriorada; milhões de brasileiros permanecem fora do
sistema educacional; medidas como as de combate à fome e à miséria, integram-se
a uma visão meramente assistencialista têm seus méritos, no curto prazo, para
minorar o desespero que se alastra em algumas regiões, mas não ajudam os
carentes a sair do seu estado.
Precisamos combater a
crise pela raiz. A grande revolução que o Brasil precisa empreender é na esfera
do conhecimento e da educação. Só assim o País poderá começar a diminuir o
abismo social que envergonha a nação.
*João Doria é jornalista, presidente do Grupo
Doria e pré-candidato à prefeitura de São Paulo
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