Medida errada na hora
incerta
*Antonio Carbonari
Netto
O fato de as instituições universitárias privadas
apresentarem queda de 30% nas matrículas no segundo semestre — devido,
principalmente, aos cortes feitos pelo governo no FIES (Fundo de Financiamento Estudantil)
— poderá comprometer uma das metas mais importantes do Plano Nacional de
Educação para esta década: elevar a taxa bruta de matrícula no Ensino Superior
para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos.
Caso os valores do
FIES não sejam restabelecidos em 2016 e nos próximos exercícios fiscais, poderá
acentuar-se a tendência de queda do volume de acesso ao Ensino Superior, um
retrocesso de graves consequências para o Brasil. É inadmissível que um
programa com tamanho alcance social e significado estratégico para a meta de
converter o Brasil numa economia de renda alta sofra redução abrupta superior a
50% no número de alunos beneficiados. Não há crise econômica ou fiscal que
justifique tal insensatez.
Neste momento de incertezas quanto à economia, é um erro
grave retirar recursos da educação, considerando serem a abrangência e a
qualidade do ensino os mais decisivos fatores para que ingressemos num processo
de desenvolvimento sustentável. O impacto é muito grande: 731 mil novos contratos
do FIES em 2014, contra apenas 311 mil em 2015.
No ano passado, 38% das novas matrículas na rede privada foram por meio
do programa. No presente exercício, o índice caiu para 19%. Os números são do
Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior).
Além de prejudicar alunos, a sociedade e o País, o corte
drástico de mais de 70% dos recursos financeiros do FIES está causando grave
dificuldade financeira para numerosas instituições de Ensino Superior. O
problema atinge principalmente as pequenas, que cumprem papel relevante no
sistema, pois equilibram o atendimento à demanda e também atendem à formação
profissional no País.
A atitude imediatista e equivocada do governo, drenando
dinheiro da educação, ao invés de economizar em despesas não prioritárias,
revela uma ausência de visão estratégica quanto aos efeitos da inclusão
acadêmica na economia e na transformação positiva da sociedade. Vejamos:
juntamente com o Prouni (Programa Universidade para Todos), o FIES, que mantém
1,9 milhão de contratos ativos, terá impacto significativo daqui a dez ou vinte
anos, no tocante à ascensão socioeconômica, aumento do valor médio da massa
salarial, pesquisa e inovação.
O Brasil não pode comprometer suas metas relativas ao
Ensino Superior, com erros do presente que pioram o futuro, prolongam sua
dependência aos países detentores do conhecimento e adiam a marcha do
desenvolvimento. Por isso, mesmo nos momentos mais difíceis da economia e da
política, como vivemos nestes conturbados dias de 2015, o governo precisa
manter a lucidez.
*Antonio Carbonari Netto, 64, matemático pela
PUC-Campinas, mestre em Administração, Educação e Comunicação pela Universidade
São Marcos, com MBA em Gestão Universitária pela Universidade São Francisco, é
membro da Academia Brasileira de Ciências da Administração e vice-presidente do
Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior. **Ricardo Viveiros
& Associados – Oficina de Comunicação
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