*Luiz Flávio Gomes
De seis partidos (por ora: PP, PMDB, PT, PTB, PSDB e
Solidariedade) saíram os primeiros 48 políticos (ativos) que serão investigados
na Operação Lava Jato. Outros políticos aparecerão, com certeza, nas novas
delações premiadas em curso. A roubalheira cleptocrata tem capilaridade. Os que
comprovadamente receberam propinas do esquema da Petrobras serão declarados
judicialmente "quadrilheiros da República" (expressão do ministro
Celso de Mello usada no julgamento do mensalão). Os partidos políticos
mergulhados na corrupção e geradores de quadrilheiros estão podres. Moralmente,
estão em fase bastante avançada de putrefação. Tornaram-se arcaicos e
decrépitos. A rigor, nem mais partidos são, pois já se transformaram em facções
criminosas. Estão completamente corrompidos (sobretudo pelo poder econômico e
financeiro). Não vale mais a pena lutar por eles. No dia 15/3 vou às ruas para
praguejar contra os políticos profissionais assim como contra os partidos
corruptos. Vamos gastar nossa energia com algo diferente. Não podemos desistir
do Brasil, mas dos partidos e políticos corruptos sim: adeus!
A Espanha está indo para esse novo caminho, com dois
partidos distintos: Podemos e Cidadãos. Os velhos partidos corruptos estão
sendo abandonados. Necessitamos de lideranças políticas novas, sem os vícios da
ladroagem e do parasitismo que caracteriza a cleptocracia. Quando um ciclo
político se encerra, outro tem que nascer. Assim é a democracia (ainda que seja
meramente eleitoral). As pessoas estão enraivecidas e fartas. Os protestos
pipocam por todas as partes. Necessitamos de novos horizontes. Algo em que
possamos acreditar. Colocando fim na mediocridade e na cleptocracia. As visões
ultrapassadas se exauriram. Chega de privilégios e de roubalheiras. O ciclo da
República nova (30 anos depois da redemocratização de 1985) se acabou. Morreu
porque levou às últimas consequências a patologia da ladroeira, da roubalheira,
do patrimonialismo, do clientelismo, do financiamento empresarial
"criminoso" das campanhas eleitorais (só tem legalidade na
aparência).
A eliminação do jogo eleitoral deve ser o destino de todos
os políticos e partidos cleptocratas; para a sepultura devemos mandar o estilo
mafializado de governança implantado no Brasil por aventureiros inescrupulosos
formado pelo quarteto maligno do funcionalismo de alto escalão (núcleo
administrativo) + políticos (núcleo político) + economia de mercado (núcleo
econômico-empresarial) + o mundo das finanças (núcleo financeiro).
Com um pouco mais de consciência cidadã e o auxílio das redes
sociais podemos varrer do País esse velho e falido modelo de fazer política,
que não está ouvindo o clamor da população desesperada, diariamente humilhada
pelo deboche do "bolsa-esposa", do novo prédio parlamentar de um R$ 1
bilhão que se quer construir, do juiz dirigindo um Porsche apreendido, da
apologia da violência feita por Lula etc. É chegada a hora de a população abrir
os olhos definitivamente e abandonar os sectarismos e bipartidarismos. Nenhum
desses partidos celeiros de quadrilheiros da República cleptocrata vale o nosso
voto ou nosso respeito. O futuro do Brasil tem que ser radicalmente diferente
do que os barões ladrões da cleptocracia apregoam. Não existe economia próspera
sem conhecimento e tecnologia. Os poderosos ladrões cleptocratas (das três
esferas: federal, estadual e municipal) jogam tudo no atraso e no analfabetismo
(porque eles mesmos são muito ignorantes). O ignorantismo faz parte da
estratégia de conquista ou manutenção do poder, sobretudo por meio do
clientelismo.
A primeira infraestrutura do Brasil tem que ser a ciência, o
domínio da tecnologia e a educação de qualidade para todos, em período integral
(veja Cristovam Buarque, O Globo). Não tem futuro o país que se mantém isolado
e sem competitividade. É preciso romper com os tradicionais vícios das
lideranças cleptocratas (que somente veem seus interesses). Precisamos
esquecê-las e abandoná-las nas mãos da Justiça criminal, que deve se encarregar
delas (punindo todos, consoante o Estado de Direito, com o máximo de
ressarcimento possível do dinheiro roubado do patrimônio público).
Por força da governança acentuadamente cleptocrata, a
pobreza (18% da população) e a miséria persistem (5,9% dos pobres) assim como o
analfabetismo absoluto (13 milhões de pessoas), milhões de crianças sem futuro
(a não ser o "bico" do crime organizado), jovens sem emprego,
natureza destruída, falta de água e de energia, corrupção endêmica, violência
epidêmica, desigualdade sistêmica, insegurança jurídica, inexistência de uma
verdadeira economia de mercado com concorrência em pé de igualdade etc.
É típico das governanças cleptocratas a venda de ilusões
(com o dinheiro dado pelos financiadores e usufruários da cleptocracia). Temos
que lutar por mudanças radicais, pela via democrática e sem violência. Novas experiências
para elevar nosso padrão moral devem ser testadas. Por frustrantes que sejam,
provavelmente serão muito melhores que a esclerosada e majestática cleptocracia
instalada no poder.
*Luiz Flávio Gomes é jurista e professor
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