Militante de rede… ô coisa chata
* Leonardo
Rodrigues
O paradoxo está aí. “Nunca antes na história desse país”
tivemos e temos tantos canais de comunicação, plataformas de socialização e
tecnologias para fomento de conhecimento. Ao mesmo tempo, é tão difícil o
exercício do diálogo. Intriga e cansa cada vez mais o esforço para essa
prática. Ou a tentativa de exercê-la.
A composição, em que as vozes se alternam ou respondem, é
cada vez mais deixada de lado. Predomina o modelo de imposição do que é tido como
absoluto para os comunicadores de redes sociais, em detrimento do que possa ser
contraditório. Aliás, o que se percebe nas redes é a relativização de qualquer
coisa contrária a um post autoral.
Há certa abstinência do ponderar e do uso do bom senso para
discussões que não levam a conclusões. Quase sempre desembocam em depreciação
do outro, e não necessariamente se restringindo aos argumentos divergentes.
Há certa tendência em adotar posturas que, mesmo
informalmente, constroem um padrão de comportamento nada aconselhável, ou mesmo
que se possa adjetivar de saudável. Não seria exagero, em muitos casos,
reclassificar como militantes os que se apresentam como comunicadores e
jornalistas.
Agressivamente ativos por uma causa, se apresentam de forma
simples, mas com tom intelectual. Costumam postar nas redes com uma humildade
que quase nos leva a nos considerarmos sortudos por podermos ler suas “obras”.
Mas, mesmo nessas plataformas sociais, em que há espaços para comentários,
opiniões contrárias ou diferentes dos princípios defendidos pelos militantes,
não são geralmente bem recebidas.
As redes sociais, mesmo amplamente difundidas, ainda são
algo novo e não tão bem assimilado pela sociedade em geral. E ainda não se
sedimentou no seu uso a cultura do diálogo e do respeito ao contraditório. Em
tal ambiente virtual, predominam as apresentações dos melhores modelos, dos
casos de sucesso – sempre dos casais mais felizes, dos religiosos mais
fervorosos, dos ateus mais inteligentes, dos cientistas políticos mais perspicazes
e dos jornalistas com as melhores opiniões.
Com tais paradigmas fazem seus posts. E medem sua
popularidade em likes (curtir) e compartilhamentos.
Leia artigo completo
no Observatório da Imprensa:
*Leonardo Rodrigues,
em 18/08/2015, na edição 864 do Observatório da Imprensa
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