Mulher, como está seu
coração?
Problemas cardiovasculares estão entre as principais doenças que
atingem o sexo feminino
Nos últimos 20 anos, aumentou a incidência de doenças
cardíacas em mulheres. “Há alguns anos, o problema, que atinge cerca de 30% das
mulheres, acometia mulheres de mais idade”, explica o cirurgião cardiovascular
Luiz Fernando Kubrusly, diretor clínico do Hospital VITA, em Curitiba. O médico
conta que se fosse realizado um estudo epidemiológico nessa época, seriam
encontrado em torno de 30% de mulheres acima de 70 anos em uma UTI
cardiológica. Hoje, esse perfil mudou: os leitos são ocupados por mulheres mais
jovens, em torno dos 30 anos. Infartos, derrames e hipertensão arterial são
responsáveis por causar a morte de mulheres, superando os índices de óbitos
provocados por tumores de mama e de útero.
O médico explica que o aumento da incidência de problemas
cardíacos em mulheres pode ser comprovado por uma série de estudos sobre o
tema. Um exemplo o de Framingham,
município do estado de Massachussetts (EUA), onde a população da cidade foi
acompanhada durante cerca de 80 anos. O estudo verificou que a doença teve uma
incidência maior em mulheres mais jovens ao longo dos últimos 20 anos, e uma
das explicações mais prováveis é a da inserção da mulher em um mercado de
trabalho competitivo e a dupla jornada de trabalho. “A partir daí, podemos
deduzir que há uma tendência de que a mulher, quando chega em casa, tenha mais
uma preocupação para atender - casa e filhos”, relata o especialista. Outra
explicação é que o sexo feminino tem uma proteção hormonal que desaparece na
menopausa. “A medicina tenta reproduzir essa proteção, mas ainda não
conseguiu”, complementa.
Não há diferença de sintomas nos gêneros, mas a doença na
mulher é mais difícil de tratar porque o sexo feminino tem, por constituição,
um corpo menor, que acaba sofrendo consequências maiores devido à cardiopatia.
“Uma mulher e um homem podem sofrer infarto em uma mesma região, porém no
organismo feminino as artérias são mais finas e portanto, mais difícil de se
tratar”, exemplifica o especialista.
Fatores de risco: Segundo Kubrusly, era comum ver mulheres
fumando em Hollywood 50 anos atrás; hoje em dia, basta sair à rua e logo
enxergamos uma fumante, até com mais frequência que os homens. “O hábito do
tabagismo cresceu significativamente entre as mulheres, e isso é um risco à
saúde”, alerta.
Os cuidados que a mulher deve ter com a saúde cardiológica
são os mesmos recomendados para os homens: praticar atividades físicas,
controlar o peso, ter uma alimentação equilibrada, ingestão controlada de
bebida alcoólica e não fumar. “Não se deve confundir exercício com lazer:
atividade física é uma obrigação e não deve ser colocada no capítulo do lazer.
E antes de iniciar uma atividade física, todas as pessoas devem consultar um
médico e, a partir de certa idade, é necessário realizar uma avaliação
cardiológica”, recomenda Kubrusly. Além disso, é interessante fazer uma
avaliação mais precoce (um check-up entre os 28 e 30 anos) em pessoas que
possuem casos da doença no histórico familiar. Isso acontece porque, por
exemplo, se o colesterol for alto e essa patologia for descoberta perto dos 40
anos, podem já ser encontradas algumas placas de gordura responsáveis por
causar entupimento no corpo. O tratamento precoce medicamentos simples pode
evitar a deposição destas gorduras nas artérias.
Não existindo cardiopatia, é interessante que a pessoa
controle os fatores de risco. Parar de fumar, reduzir a pressão arterial, fazer
controle do peso e do estresse são algumas recomendações para reduzir a
probabilidade de problemas cardíacos. “Às vezes, a pessoa confunde muito o estresse
com ansiedade. Estresse também pode se expressar por meio da tristeza, e isso é
uma forma de fator de risco coronariano. É estresse, só que de forma
diferente”, alerta.
A alimentação deve seguir uma dieta normal e sem exageros.
Deve-se prestigiar os alimentos que são mais saudáveis, diminuir as quantidades
de gordura saturada, embutidos, sódio e bebidas alcoólicas. “A gordura saturada
é a que vem dos animais e faz mal à saúde. Por isso, deve-se priorizar a
ingestão de gordura vegetal”, destaca o cardiologista. A sugestão do especialista é que as pessoas
não comam pelo sabor, mas pela classificação da comida, priorizando a qualidade
de vida. O ideal é sempre começar a se servir pelas saladas, ou seja, pelos
alimentos mais saudáveis, e diminuir a quantidade dos outros alimentos, como as
frituras.
Outro fator de risco para as mulheres é o uso de pílula
anticoncepcional, responsável por causar a trombofilia – formação de trombos
quando a mulher jovem começa a tomar contraceptivo. Não se trata de trombose
arterial, que pode levar à morte, mas a trombose venosa. “É mais frequente que
jovens entre 22 e 25 anos tenham um quadro de trombose venosa, que é uma
trombose da veia da perna, ou corram o risco de sofrer uma embolia pulmonar”,
ressalta o médico. O uso de anticoncepcional está cada vez mais precoce, seja
com a finalidade contraceptiva ou para tratamento de incômodos menstruais, como
as cólicas.
Reincidência de cardiopatias - De acordo com Kubrusly, quem
já teve problemas de coração tem mais risco de ter o problema novamente. “A
doença cardíaca se instala e é difícil de ser retirada. Poucas são as
cardiopatias tratadas e que somem. As doenças cardíacas que são adquiridas,
como a hipertensão, podem retornar quando não mantidos os cuidados (consumo
excessivo de sal, aumento de peso, tabagismo, sedentarismo)”, conclui o médico.
*Central Press
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