Desarranjo de compadres
*Patrícia Bueno
Assinei o pedido registrado em cartório e na Câmara
Federal para impeachment da presidente. Em nome do movimento que dirijo e da
minha consciência, sobretudo. Tem horas que o melhor é nos aborrecer com outras
figuras da política. E a presidência da Câmara Federal, terceira autoridade
pública a assumir a presidência da República na falta do vice-presidente,
precisa ser trocada. A quantidade de acusações noticiadas pelos vazamentos via
imprensa exige o afastamento de quem deveria conduzir a Nação e liderar sem
qualquer nódoa o Poder Legislativo. Aqui, transformam o escândalo em razão para
a fortalecimento da politicalha.
O Partido dos Trabalhadores, desconfiávamos, desbotou seu
vermelho desde sua primeira conquista presidencial. Abraçou o PMDB e a maioria
dos partidos que nasceram da lei que transforma bandeiras políticas em balcão
de negociatas. A aliança com bases no oportunismo de ocasião representava o
selo de governabilidade que o PT sempre buscara. O PT, por favor admitam,
desceu à fossa para qual odor sempre apontou um tipo de J´Accuse, matreiro,
sabemos hoje.
O PT mensalou para manter maioria no Congresso, enquanto
o PMDB irrigava, com recursos públicos, os inúmeros currais eleitorais que
garantem a eleição de uma das maiores bancadas do Congresso e nos quais vários
integrantes são citados como beneficiários desta, repito, irrigação irregular
de dinheiro nos esquemas investigados a partir de Curitiba.
Mas este tratado de dilapidação de recursos públicos para
fins a serem explicados começou a ter maiores problemas. Aliás, como tudo que
envolve politiqueira. Ninguém prestou muita atenção, mas a desavença começou
quando o PT tentou emplacar decreto que previa a criação de conselhos populares
para, dentre outros objetivos vagos, “consolidar a participação social como
método de governo”.
Na Ciência Política, sabe-se que a criação de conselhos é
estratégia para falsear a representatividade de diversos setores da sociedade.
E que tal sistema, a exemplo da Venezuela, pode retirar poder dos
representantes eleitos no Executivo e no Legislativo e transferí-lo a membros
da sociedade civil tais como coletivos, movimentos sociais e outros grupos
tradicionalmente amigos do PT.
Os conselhos foram repudiados por parte da sociedade e
pelos deputados, mas o PT necessitava “construir hegemonia na sociedade”.
Precisava para isso submeter o Congresso, tinha inclusive que dominar o seu até
então aliado. As tentativas petistas de diminuição do poder do PMDB foram
várias, aventaram a criação de novo partido para atrair parlamentares do PMDB,
excluíram o “amigo” de vários ministérios, disputaram o controle do Senado e da
Câmara.
A aliança estremeceu. O ensaio do PT falhou, o PMDB
conquistou as duas Casas do Congresso e ainda colocou na presidência da Câmara
inimigo histórico do PT, Eduardo Cunha.
Poderia ser apenas
mais um pequeno desarranjo entre compadres a ser “tradicionalmente” resolvido,
mas a desaprovação popular acompanhada por vários pedidos de impeachment
colocaram o mandato de Dilma em risco. A fatura dessa vez foi muito alta, pois,
caindo Dilma – pelos votos do Congresso -, assume o seu vice – Michel Temer -
que é do PMDB. O PT teve de entregar seus principais ministérios ao amigo
habitual.
Para fraturar o PMDB, foi-se à caixinha das maldades do
mercado de informações, no qual tudo se sabe e se guarda para o melhor momento
da venda e troca que é a política. A pressão veio pelas denúncias contra Cunha,
apresentadas de maneira célere. Agora, o presidente da Câmara, que autorizaria
o início do impeachment de Dilma, também está com seu mandato em risco.
Os dois lutam por sua sobrevivência política, enquanto
que parte do PMDB quer manter ministérios conquistados, parte quer o controle
do Brasil. Novas alianças e ataques são diariamente feitos, mas o que
acontecerá dependerá do abraço ou mata-leão que os sempre amigos Dilma e Cunha,
PT e PMDB se derem. Este é o Brasil, governado pela ocasião das alianças.
Enquanto isso, um brasileiro morre assassinado a cada
onze minutos; aguarda-se até onze horas para ser atendido nos hospitais
públicos e umas três nos privados; um quinto das residências deste país tem
gente que não trabalha; as vendas caem em todos os setores; e querem aumentar
impostos para garantia das benesses de quem está no Poder.
*Patrícia
Bueno é mestre em Direito Político e Econômico e diretora-executiva do
Movimento Endireita Brasil (patriciabuenobr@gmail.com)
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