País carece de
tolerância e diálogo, afirma especialista
Coordenadora do curso
de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina (FASM) faz análise do
momento brasileiro atual, tanto na política, como na vida do cidadão comum
A crise política e econômica que atinge o Brasil tem
mostrado um lado perverso: a intolerância revestida de direito a opinar. No
ambiente do Congresso, no mundo corporativo e nas redes sociais, não faltam
histórias e casos de agressão verbais e físicas, que envolvem pessoas que dizem
ser comprometidas com a ética. De um lado, vemos uma minguada base aliada, que
defende ferrenhamente o governo. De outro, uma oposição renovada, que ganha
forças com o impeachment cada vez mais perto. E no meio de tudo isso, uma
população cada vez mais dividida, que “debate", mas não chega a uma
conclusão. Afinal, há muito tempo a discussão deixou de ser racional e passou
para um nível mais perigoso, o emocional, analisa Rita do Val Santos,
coordenadora do curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina
(FASM).
“As sessões do Legislativo lembram as brigas de torcidas
organizadas. Nas redes sociais, o debate democrático deu lugar à barbárie, com
trocas de ofensas pessoais, insultos e ameaças. Gente que justifica o emprego
da tortura (que é crime no Brasil), pede a volta da ditadura militar, faz
apologia ao estupro como prática "educativa" e defende que o
adversário deveria ser exterminado (genocídio?)".
A cada dia, o País
vivencia a sensação de intolerância. As amizades estão cada vez mais abaladas,
principalmente no ambiente virtual. Segundo pesquisa conduzida pela VitaSmart,
uma em cada cinco pessoas diminui seu contato com amigos na vida real devido a
brigas nas redes sociais. E 19% dos 2.698 entrevistados admitiram ter bloqueado
ou cancelado amizades por causa de discussões virtuais.
“Triste ver que a violência tomou o lugar do uso da razão e
que a intolerância com quem pensa ‘diferente’ transforma amigos em inimigos,
colegas em adversários”, lamenta a professora. Para ela, “estamos na contramão
da História, já que, desde o final da Segunda Guerra Mundial, o mundo
organiza-se para a construção e manutenção da paz, e o Brasil sempre teve papel
importante na mediação de acordos, dada a vocação de seu povo e de seus governantes
para o diálogo. Rita ainda afirma: “Talvez tenhamos esquecido de que somos
todos parte de um país, que queremos que
o Brasil supere suas dificuldades, para que todos nós, brasileiros e
estrangeiros que aqui vivemos, possamos ter uma vida digna, progresso social e,
claro, paz”.
A professora conclui: “Políticos são mediadores das relações
entre o Estado e a sociedade. Defendem (ou deveriam defender) interesses da
população, com competência para construir pontes entre opositores. A capacidade
de desconstruir, a animosidade e a dinâmica adversarial devem dar lugar ao
diálogo. Isso é requisito básico de quem recebe um mandato público”, finaliza a
especialista.
*Ricardo Viveiros
& Associados – Oficina de Comunicação
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