Um novo Brasil
*Luiz Carlos Borges da
Silveira
O final do
ano de 2015 marcou trinta anos da Nova República, nome que se convencionou
adotar para o período da redemocratização do país a partir do fim do regime
militar e a posse do primeiro presidente civil desde 1964, José Sarney,
substituto constitucional do eleito Tancredo Neves. Esse período foi de altos
baixos na vida brasileira, encerrado com um dos maiores acontecimentos em
termos de investigação e punição de crimes de corrupção. A Operação Lava Jato,
pode-se afirmar, fecha esse ciclo de três décadas e sinaliza para um país
passado a limpo, ou seja, um novo Brasil.
Por
decorrência direta e indireta desse evento, o país vive atualmente uma nova
situação, com a presidente afastada e a Nação dirigida por seu sucessor legal,
o vice-presidente Michel Temer.
A indagação
corrente nestes últimos dias tem sido esta: o que esperar do governo interino?
Evidentemente não pode haver uma resposta definitiva, apenas conjecturas,
análises e até palpites. Naturalmente, o sucesso do governo dependerá do
sucesso de medidas que precisam ser tomadas para reequilibrar o país. O êxito
fica condicionado igualmente a diversos fatores, entre eles apoio político,
parlamentar e popular. O momento requer diálogo, compreensão e união nacional.
A situação
tornou-se insustentável no governo Dilma. A presidente perdeu as condições de
governabilidade. Por inexperiência e inabilidade na negociação política acabou
sem apoio do Congresso, que se aproveitou da fragilização do poder. A presidente
contabilizou forte rejeição popular face a erros na condução econômica e ficou
sem sustentação inclusive na sua própria base e partidos aliados. Isto, somado
aos problemas de corrupção, foi o âmago da questão do impeachement, embora o
processo haja se baseado no único fundamento jurídico legal, as chamadas
pedaladas fiscais.
Quanto ao
presidente interino, deve se considerar que Michel Temer é pessoa preparada,
tanto pela formação quanto pela gestão pública e vivência política. Está na
vida pública há 50 anos, foi Procurador Geral do Estado de São Paulo, três
vezes secretário no governo paulista, seis mandatos de deputado federal, três
vezes presidente da Câmara Federal, além da atuação no núcleo do poder como
vice-presidente da República.
A ele são atribuídos
dois predicados relevantes: hábil articulador político e facilidade de diálogo.
Debita-se ao novo presidente carência de apoio popular, de carisma e estreito
envolvimento com o povo como possuem outras lideranças. Ele mesmo reconheceu,
em entrevista, que lhe falta “inserção popular”. Mas isso poderá vir a
conquistar, dependendo dos rumos que o país tomar. É oportuno lembrar que dois
vices anteriores que assumiram não eram da simpatia popular: José Sarney, que
tinha rejeição e desconfiança do povo, e Itamar Franco. Ambos se saíram
relativamente bem, embora em circunstâncias distintas.
O certo é
que para corresponder às expectativas dos brasileiros, Michel Temer terá de
adotar medidas fortes e impopulares, notadamente nas áreas econômica e social.
E necessitará de resultados positivos em pouco tempo. Para isso, depende
primordialmente do apoio do Congresso Nacional, que por sua vez deve demonstrar
grandeza, espírito público e trabalhar pelo Brasil com seriedade, firmeza e
espírito patriótico, compreendendo muito bem a gravidade da situação.
Não se deve
ignorar que este governo enfrentará uma oposição muito forte, articulada e de
militância agressiva. Uma oposição rancorosa, como disse um analista asiático
sobre o momento brasileiro. Trata-se de grupo que não perdeu uma eleição, mas
foi afastado, transformado de situação em oposição.
Entre as
reformas necessárias, duas delas já foram definidas, a trabalhista e a
previdenciária, outras devem ser imediatamente colocadas na pauta, entre elas a
reforma política, pois desta dependerá a organização de um país regido por
moderno e efetivo regime político. E no conjunto de medidas, também urgentes do
governo Temer, estão a reorganização econômica, sinais de controle e redução da
inflação e do desemprego, apontando para o fim da recessão. São fatores
influentes no mercado interno e na produção nacional, com positiva repercussão
externa visando à reconquista da confiança dos investidores internacionais.
Acredito que
um clima de mudança é sempre favorável. Depois de amargas experiências e
situação tão adversa vividas nestes últimos anos, os brasileiros irão desejar
um futuro melhor, futuro este que virá se todos atuarem na mesma direção. Foi
assim que o país superou outras crises, e deverá superar a atual também.
*Luiz Carlos Borges da Silveira é
empresário, médico e professor. Foi Ministro da Saúde e Deputado Federal.
** P+G Comunicação Integrada
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