A festa era falsa
*José Pio Martins
O Brasil teve lampejos de desenvolvimento após o fim do
regime militar em 1985. Entre os períodos de crescimento econômico mais
badalados estão os oito anos de Lula. Espertamente, Lula vendeu a ideia de que
o êxito se deveu a sua genialidade política e à inclinação do PT para atender
os pobres. Outro período de euforia desenvolvimentista se deu nos anos iniciais
do primeiro mandato de Fernando Henrique, eleito duas vezes sobre o sucesso do
Plano Real.
Mas se era verdade que o bom desempenho se devia aos homens
na presidência, por que razão o Brasil mergulhou ladeira abaixo e entrou numa
das piores recessões de sua história nos cinco anos de Dilma Rousseff, sendo
que ela foi ministra de Lula e é do PT? Ela cometeu vários erros, mas a questão
é mais complexa. Os governantes têm acertos e têm erros, contribuem para o
sucesso e também ajudam a forjar o fracasso. Mas a verdade é que nem o sucesso é
só mérito dos governos nem o fracasso se deve apenas aos erros deles.
Com Dilma, não é diferente. Ela cometeu erros,
principalmente na economia. Porém, há efeitos negativos que vieram do exterior
e ajudaram a piorar a situação, como do exterior vieram, nos anos de Lula,
vantagens que ajudaram o bom desempenho daqueles anos. Em documento de outubro
de 2015, o filósofo Mangabeira Unger, que foi ministro-chefe da Secretaria de
Assuntos Estratégicos, faz uma afirmação interessante. Ele diz que o
desenvolvimento brasileiro dos últimos 30 anos repousa em duas bases: consumo e
commodities.
A explosão dos preços internacionais das commodities
agropecuárias e dos minérios exportados, basicamente em função do alto consumo
da China, inundou o Brasil de dólares e inchou o caixa das empresas
exportadoras, dos produtores rurais, das mineradoras e, também, do governo. Por
esse canal, uma montanha de dinheiro irrigou o bolso dos trabalhadores – aí
incluídos os programas sociais estatais – e milhões de brasileiros subiram na
escala do consumo.
Só que a festa acabou. A China encerrou 30 anos de
crescimento acelerado, aqueles mesmos preços que haviam explodido retrocederam
e caíram muito, as torneiras que irrigavam esse modelo começaram a secar e a
crise atual foi agravada. Para piorar as coisas, Dilma cometeu erros de
política econômica e o país está voltando a ser o que sempre foi: um país
pobre. Mas onde está o problema maior? O professor Mangabeira Unger diz: “O
Brasil retirou do chão a riqueza que a inteligência não se preparou para
produzir”.
Ou seja, a terra deu as commodities que financiaram a festa.
Infelizmente, a riqueza dada pela terra escondia o mais grave problema
nacional: a baixa produtividade. O produto por hora de trabalho do brasileiro é
pífio e a renda média da população continua muito baixa. Com a queda das
receitas das commodities exportadas, também o governo entrou em parafuso, a
arrecadação despencou e o déficit fiscal se espalhou pelos municípios e
Estados, além do gigantesco déficit da União.
O governo – culpado
por ter inchado a máquina estatal e ter estourado os gastos – não aceita
abandonar a festa da qual participou sem méritos, e está querendo pagar a conta
com uma avalanche de aumentos tributários. Produtividade baixa é o nome da
grande tragédia nacional. Ou ela aumenta ou não tem espasmo internacional capaz
de tirar o Brasil da pobreza. Resta saber por que a produtividade brasileira é
tão baixa. Isso é tema para outro artigo.
*José Pio Martins, economista, é reitor da
Universidade Positivo.
**Central Press
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