Inflação e desgoverno
*Reginaldo Gonçalves
O cenário econômico continua apresentando aceleração da
inflação, que, em março, foi de 0,97% pelo IPC da FIPE. Trata-se de forte
indicativo de que a taxa acumulada no ano ficará acima do topo da meta estabelecido
pelo Banco Central, de 6,5%. A maior incidência de aumentos está relacionada a
alimentos (1,87%) e despesas pessoais (1,17%). Embora a mensuração da inflação
acima citada refira-se a famílias com renda de um a 10 salários mínimos na
Região Metropolitana de São Paulo, já existe a premissa de que o IPCA, índice oficial da inflação, possa sinalizar
uma aceleração. Apesar disso, o governo insiste que será de apenas um dígito.
Um dos fatores que
pressionarão os preços é a autorização dada pelo governo para o aumento de 8,6%
nas contas de energia elétrica no interior de São Paulo, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul. A situação somente não é pior porque, depois do excesso de
chuvas, as autoridades perceberam que não se justificava a manutenção do sistema
de bandeiras, utilizado quando foi necessário acionar as termoelétricas para
suprir o abastecimento. Porém, a suspensão da bandeira tarifária representará
menor arrecadação para as concessionárias elétricas, que, de imediato,
pleitearam aumento de preços, aceito pela Aneel (Agência Nacional da Energia
Elétrica).
A questão energética é mais um elemento que coloca em xeque
a credibilidade do governo. Há rumores de que o ex-presidente Lula influencia
cada vez mais as decisões administrativas, despachando medidas durante reuniões
em hotéis, conforme amplamente divulgado pela imprensa. Tudo isso acirra o
ceticismo dos empresários de todos os setores, incluindo os investidores
estrangeiros. Tal desconfiança agrava a recessão e o desemprego. Com menos dinheiro girando no mercado e o
aumento dos juros, é inevitável o impacto nos preços de produtos e serviços.
Estamos num círculo vicioso!
A realidade é clara:
está sendo muito mal visto o leilão de cargos nos ministérios e órgãos
estatais, promovido pelo governo para recompor a base aliada no Congresso
Nacional, após a debandada do PMDB. Isso se reflete diretamente nos
investimentos. Ninguém quer pôr dinheiro num Brasil permeado por uma crise
política gravíssima, fisiologismo, escândalos e incertezas de toda ordem.
Assim, projetos de logística, transportes e geração de energia, que poderiam
auxiliar na redução dos custos de produção, vêm sendo adiados indefinidamente.
Há limites para riscos no capitalismo. Quando não há perspectivas no horizonte
para o retorno do aporte de capital, tudo fica estagnado.
Não há transparência
no governo e sequer um plano sério de contingenciamento dos gastos. Por isso, o
déficit orçamentário da União pode chegar a R$ 100 bilhões. Sem superávit
primário, o dinheiro fica mais caro e as fontes de fomento cobrarão juros cada
vez mais elevados. O mais grave é que o governo está paralisado, com todo o seu
foco dirigido às manobras para evitar o impeachment da presidente Dilma
Rousseff. Há muita discussão e polêmica entre os poderes constituídos. O Brasil
espera o desfecho político para caminhar. Quem governará o País? Dilma
continuará? Temer assumirá? Ambos serão afastados e haverá novas eleições em 90
dias?
O Brasil espera essas respostas para que seja possível
restabelecer a governabilidade e a gestão pública. A prioridade é o equilíbrio
financeiro, que não pode vir do aumento da carga tributária e tampouco de novos
financiamentos, mas sim do corte de gastos desnecessários. A máquina
governamental está muito pesada. Por isso, os brasileiros estão assumindo a
responsabilidade pela incompetência no trato dos recursos públicos, além de
arcarem com todas as consequências que a crise está acarretando aos cidadãos e
à sociedade.
*Reginaldo Gonçalves é coordenador do
curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina (FASM)
**Ricardo Viveiros & Associados –
Oficina de Comunicação
Nenhum comentário:
Postar um comentário