O jornalismo como fator
de reversão do pessimismo
*Gabriel Bocorny Guidotti
Existem
muitas maneiras de buscar conhecimento. Sentar à beira de um lago, a fim de
observar os peixes nadando. Ler um livro. Assistir a um filme. Abrir um jornal
e manter-se atualizado a respeito dos principais acontecimentos de nosso tempo.
Seguindo nesta última linha, é justamente a imprensa – de jornais, sites,
rádios, televisão etc. – o assunto deste texto. Até que ponto a necessidade de
audiência atrapalha a função social dos veículos de comunicação? Ou seja, até
que ponto atrapalha o compartilhamento de conhecimento?
A imprensa
faz parte de um contexto que forma opinião. Em 2015, o noticiário foi péssimo
em razão da tempestade política no Brasil, somada a outras crises registradas
planeta afora. Eximir-se de comunicar as principais mazelas da civilização
seria fraudar o jornalismo. O gosto pela notícia de cunho negativo, contudo,
num universo que também comporta milhões de notícias positivas, é uma chaga das
redações.
Os veículos
têm a tarefa hercúlea de se manter atrativos; caso contrário, o modelo de
negócios ruiria. Para isso, está entre os principais valores-notícia das
redações o fato que choca, que gera repercussão. Conteúdos que edificam, mas
nos fazem chorar ao mesmo tempo. Essa dinâmica é sensível nos telejornais. Os
primeiros blocos metralham o espectador com notícias trágicas. No encerramento,
uma reportagem menos dolorida. A tensão diminui, mas não sem deixar cicatrizes.
Ainda nesse
espectro, é surpreendente observar como os telejornais de horários nobres se
modificaram. Anos atrás, o tipo de notícia veiculada atendia ao público da
manhã, por exemplo. Digamos que crianças e donas de casa. Hoje, não há horário
para noticiar, com grande interesse, tragédias de diferentes magnitudes. É
bombardeio atrás de bombardeio. O cenário negativo de nosso país virou atração
para todo e qualquer receptor.
Imprensa divide a responsabilidade
Notícias
inspiradoras ganham pouco espaço. Essa é verdade (e ela agrava um clima de
pessimismo coletivo). Mas seria injusto condenar a imprensa como principal
força-motriz da infelicidade alheia. Inúmeros sociólogos criticam o
esfacelamento do tecido social. A corrupção contaminou as esferas pública e
privada. Há uma crise de valores morais, na qual o bem e o mal estão separados
por uma linha tênue.
Se o
jornalismo é pouco propositivo, ele divide essa falha com outros segmentos da
sociedade. As escolas, por exemplo, com professores desmotivados e alunos
alienados. As famílias, igualmente, são estruturas que passam por intempérie.
Crianças e jovens ficam à mercê de uma base educativa ruim, que não impõe
limites ou referenciais. Em vez de um mundo colorido, cheio de possibilidades,
veem um mundo escuro, engessado.
A imprensa
deve formar, informar e entreter, embora às vezes se esqueça de seus princípios
basilares. No que corresponde a ela, cabe uma revisão conceitual sobre assuntos
que vão, de fato, contribuir para o enriquecimento intelectual da audiência. O
jornalismo, se propondo a conteúdos pessimistas, exclusivamente, não cumpre sua
função social. Está na hora de voltar a cumpri-la. Quem sabe isso não inspire
outras pessoas e setores a fazer o mesmo?
*Gabriel Bocorny
Guidotti é jornalista e escritor. Publicado em 11/07/2016, edição 911 do
Observatório da Imprensa
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