Lidar com as próprias emoções é
desafio para crianças e jovens no século XXI
Experiências que provocam sensações
variadas devem ser estimuladas desde cedo, segundo especialistas. Jogos de
raciocínio podem ser uma opção
Considerada por muitos especialistas como “o mal do século”,
a ansiedade afeta cerca de 33% da população mundial, segundo dados da OMS.
Crianças e adolescentes não escapam das estatísticas: algumas pesquisas, como a
desenvolvida pelo Departamento de Psiquiatria da USP, sugerem que pelo menos
10% sofrem de algum transtorno ansioso no Brasil. A tendência é reforçada por
outro estudo, feito pela MindGroup, no qual os estudantes que se declaram mais
ansiosos na resolução de questões de matemática, tiveram desempenho 23% pior
que os demais.
Como ajudá-los a controlar melhor suas emoções? Para Sandra
Garcia, diretora pedagógica da Mind Lab e especialista em neurociência, é
preciso antes de tudo entender o momento histórico vivido hoje. “As pessoas têm
corrido atrás de algo, de uma felicidade que está por vir. Não vivem o momento
presente, não curtem os pequenos prazeres do dia a dia”, diz. “Acreditam que a
felicidade virá com a entrada de um filho na universidade, comprando uma casa
nova ou o carro mais moderno. Assim, não aproveitam o que têm e nem as pessoas
que estão ao seu redor. Vivem os processos aceleradamente, sempre ansiosos pelo
que virá. O foco está sempre no futuro e por isso enfrentam a dificuldade de viver processos, o
que também afeta os mais jovens”, explica Sandra.
Não há quem nunca tenha ficado ansioso ou experimentado
outros sentimentos hoje considerados negativos, emoções que são inerentes ao
ser humano. O desafio, no entanto, é aprender a lidar com elas. Para isso, é
fundamental que sejam vivenciadas situações concretas, simuladas por meio de
jogos, que permitam extravasar sentimentos como raiva, frustração e dor.
“Ninguém é feliz o tempo todo, não amamos as pessoas com a mesma intensidade
todos os dias. Isso é um mito. As crianças precisam ter consciência disso”,
alerta Sandra.
Nesse contexto, os jogos simbólicos e de raciocínio se
mostram uma maneira eficiente de colocar crianças e adolescentes em contato com
sentimentos que todos nós devemos aprender a dominar para chegar à vida adulta
com equilíbrio emocional.
“Não é pelo discurso, mas pela experiência vivida que se
aprende. Quando uma criança perde uma partida em um jogo, é preciso explorar as
emoções que aparecem. O que fazer? É importante desenvolver a consciência e
lidar com as frustações que vão surgir ao longo da vida, aprendendo a se
fortalecer a partir delas. Lidar com o ganhar e o perder.” - ressalta Sandra
Garcia.
Habilidades socioemocionais
O conjunto de emoções e a maneira como lidamos com elas tem
nome: habilidades sócioemocionais. Essas competências nos permitem desenvolver,
entre outras coisas, a capacidade do bom relacionamento interpessoal, da
resolução de problemas e do autoconhecimento.
Para Anita Abed, psicopedagoga da Mind Lab e autora do
estudo “O desenvolvimento das habilidades sócioemocionais como caminho para a
aprendizagem e o sucesso escolar”, texto produzido para o Conselho Nacional de
Educação (Unesco), o ambiente escolar precisa urgentemente trabalhar as
competências.
“Deve haver uma parceria entre escola e família, claro, mas
muitos pais estão perdidos e não sabem o que fazer, então é hora de a escola
capacitar o professor e assumir essa responsabilidade. Para isso, é fundamental
desenvolver as habilidades sócioemocionais do educador. Professores, alunos e
familiares, em um contato próximo e intenso possibilitado pelos jogos, em um
contexto lúdico e de simulação da realidade, se enriquecem pessoalmente e
fortalecem os laços entre si.” – enfatiza Anita. O resultado, a longo prazo, é
a construção de cidadãos resilientes, com capacidade de enfrentar situações
frustrantes ou dolorosas através do controle das próprias emoções.
*Mira Comunicação
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