sexta-feira, 20 de março de 2015

É a política, estúpido!


*Marta Suplicy

A inquietação em São Paulo e os relatos que ouvi aqui em Brasília de fúria em pequenas cidades do Nordeste evidenciam que o ódio, a indignação e a impotência chegaram aos que não bateram panelas. Somem-se a isto a assustadora corrupção na maior empresa brasileira, uma presidente que insiste em afirmar que a crise é conjuntural e internacional, quando os indicadores mostram quanto a economia vem se deteriorando, além de teimar que as manifestações são da burguesia ou de quem quer terceiro turno. Resultado: apreensão quanto às manifestações de hoje e domingo.

O governo perdeu a iniciativa política e se enfraquece na sucessão de erros e trapalhadas. Este é o centro da questão, a chave do problema.

Enquanto o governo não mudar, de forma radical, sua linha política, nada se resolverá. É urgente e necessária uma total reestruturação do time responsável pela desastrada estratégia adotada neste início de governo.

Não gruda o Palácio chamar o panelaço de manifestação "Le Creuset" (marca de panelas gourmet). Nas periferias, a comida na mesa está diminuindo, o desemprego ronda, os alagamentos continuam constantes e começa a chegar a conta da luz 23% mais cara. A sensação de abandono é gigantesca. Todas as classes já perceberam a falta de sinceridade e explicações longe do real e demonstram, como podem, o desacordo com isso.

O governo Dilma e seu núcleo político não têm mais condições de continuar errando. Passou da hora de mudar a postura, construir um novo consenso, se é que é possível. É preciso reordenar as ações e o discurso. As pessoas que aí estão não têm mais autoridade, capacidade e nem condições de continuar. Comprometem o país, fazendo ruir por completo a legitimidade deste governo recém-eleito. Sabemos que não estão lá por acaso, pois em muito se assemelham à protagonista.

O que está em jogo é a governabilidade, a sobrevivência de um país que só encontrará a saída através do redirecionamento de sua orientação política e econômica. Do contrário, teremos o aprofundamento das dificuldades e continuaremos caminhando, a passos largos, para uma crise institucional sem precedentes.

Não há como continuar com uma equipe de governo que se distanciou, que quase rompeu com o Congresso Nacional e que, por seus vícios sectários e métodos excludentes, estabeleceu uma verdadeira ruptura com a vida nacional.

Uma coisa é certa, se não podemos trocar de comandante, em pleno voo de turbulências, o mínimo que podemos exigir é a troca imediata da equipe de comando. A começar pelo copiloto, responsável maior por ter traçado a desastrada rota de voo.

*Marta Suplicy é senadora pelo PT-SP. Foi prefeita de São Paulo (2001-2004), ministra do Turismo (2007-2008) e ministra da Cultura (2012-2014).   Leia mais: facebook.com/MartaSenadora/

**Artigo publicado na Folha de S. Paulo em 13/03/2015

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/martasuplicy/2015/03/1602195

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